"Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela
redenção que há em Cristo Jesus." Romanos 3:24
Você já deveu dinheiro a alguém?
Ou um favor? Ou algo muito valioso? Então você conhece aquela sensação incômoda
que se sente ao se aproximar dessa pessoa! É esquisito, não é?
Alguém que é seu amigo de verdade, mas que por uma razão circunstancial,
no caso sua dívida pessoal com ela, provoca em você uma compulsão pelo
distanciamento. Sempre que você a vê, ou ouvir falar nela, brota esta sensação
esquisita que tanto nos angustia. Até que possamos saldar a dívida estaremos
divididos em dois mundos: o desejo de se relacionar com a pessoa de quem você
tanto gosta; e a sensação de que algo muito errado aconteceu entre vocês, e
portanto, o relacionamento de outrora já não é mais o mesmo.
Ficamos com a certeza de que nosso o amigo ou amiga está sempre pensando
em o quanto lhe devemos. Como humanos que somos, essa é uma certeza plausível e
não temos como raciocinar de outra
forma. Não somos tão livre assim!
Tudo se baseia na convicção da dívida, na certeza dos
impedimentos que ela traz, e na nossa incapacidade de crer que
podemos ser a aceitos plenamente sem que a dívida seja por nós quitada.
Agora pense em Deus e nestes três pontos básicos da nossa estrutura
mental (almática).
A certeza da dívida é algo que nos fustiga diuturnamente, sejamos ou não
ligados à alguma convicção religiosa("religare").
Sublimamos, racionalizamos, jogamos para baixo do no nosso tapete psíquico, e
cometemos o auto-engano de desacreditar até mesmo que ela exista; mas não tem jeito! Uma hora qualquer sempre temos que encará-la.
Como então nossa dívida é impagável, vem a desconforto em relação àquele
que por tantas vezes dizemos em palavras ser o nosso melhor amigo. Tanto
que nas horas, cada vez mais minutos, a sós com Ele, se instala um silêncio
sepulcral, ou uma verborragia virtual da nossa parte, que apenas preenche os
momentos dessa relação.
Ficamos sempre com aquela sensação
de que temos de algum modo que contribuir com nossos esforços para, se não
pagar tudo, pelo menos possamos compensar um pouco nossa dívida impagável. Proliferam
então os mecanismos de auto-engano, que nos levam às tentativas de burlar a
dívida; às esquisitices performáticas e
ritualísticas compensatórias; aos aprisionamentos xamânicos da "religare"; até à
auto-comiseração e ao adoecimento permanente da alma.
Não cremos que somos aceitos por Deus
assim como somos. Não cremos no perdão unilateral. Fomos ao longo da vida
construindo nossas relações baseadas em um sistema de escambo. E ninguém nos
convence que Deus, pelo menos nesse aspecto, não seja tão humano como nós
mesmos. Deus tem que pensar de acordo com nossas categorias humanas!
Aqui está onde a Graça e o Perdão
falham!!!
Não aceitamos algo assim tão
gratuitamente. Deve ser alguma pegadinha cósmica! Essa história de morte na
cruz não tem lógica alguma. A dívida é nossa, nós temos que pagá-la de algum
jeito. Se o próprio "Criador"
a pagar por nós, nossa dívida só crescerá. Não. Essa lógica não satisfaz o meu
senso de justiça!
De algum modo, mesmo os que cremos,
continuamos a buscar uma maneira de satisfazer a nossa justiça-própria.
É justamente quando chegamos aqui que
estaremos decaindo da Graça.
Pense nisso!